sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Lembranças


Quando eu era pequena, meu pai sempre trazia da padaria um chocolate pra mim e um pra minha mãe. Eu dizia que aquele era meu chocolate preferido, lembro que ele tinha pedaços de castanha... Mas aquele não era meu chocolate preferido porque eu havia experimentado vários e gostado mais daquele, era meu preferido pelo que representava. Eu sabia que aquele chocolate significava que meu pai havia lembrado de mim, e de alguma forma me amava. O tempo passou e ele deixou de trazer... Então um dia, depois de alguns anos, fui naquela mesma padaria e comprei o chocolate. Foi quando entendi que aquele nunca tinha sido meu preferido, que na verdade ele era como qualquer outro. Não fazia sentido compra-lo, não era a mesma coisa come-lo. Essa foi a primeira vez que me senti só.
No mundo dos negócios, o valor agregado ao produto, é em geral, o maior diferencial que uma empresa pode oferecer. Dois refrigerantes podem ter sabor idêntico, mas se um deles estiver numa lata de coca-cola valerá mais. Duas calças podem ser idênticas, mas se uma for vendida no shopping será mais cara. Marca, marketing, publicidade. Era assim que eu via aqueles chocolates, a forma concreta e saborosa do amor de meu pai, que na verdade, era apenas o valor agregado.
Talvez justamente porque o via assim, hoje não consigo enxergar... O que é o amor? Senão um chocolate comprado na padaria e trazido pelo pai... E se isso não mais existe, então o amor é como abraçar o vento... subjetivo demais para que eu entenda.

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