Fato

Não posso deixar de relatar um fato que me ocorreu hoje. Vindo no ônibus, já com um pouco de sono pelo saculejar combinado ao vento cortando meu rosto me aconcheguei no assento, convenhamos que não foi fácil, mas consegui. Com o balançar, percebi que em freadas minha nuca encostava delicadamente nas mãos do passageiro de trás, ou seriam as mãos dele que encostavam delicadamente na minha nuca? Decidi ignorar. O cara era esperto, começou mechendo discretamente no meu cabelo, sempre com o ônibus em movimento, claro, imagino eu que pra ter uma desculpa. Será que ele achou mesmo que eu não percebi? Nem ligo... Já estava meio sonolenta e a viagem seria longa, estava tão bom mesmo. Depois de um tempo tive medo. E se for um desconhecido? Pior, e se for um conhecido? Um ladrão? um velho tarado? Um frase me veio a mente: Nada acontece sem a permissão de Deus. Respirei e novamente estava tranquila... Eu nunca tive medo de estranhos mesmo. E se ele fosse um gato? Forte eu sei que era, carinhoso também. Só uma louca pensaria nessas possibilidades... Um louca, ou uma livre. Porque a liberdade sempre me trouxe essa confiança. Se passaram quase 40 min até chegar na minha parada final, a questão que me rondava agora era: Olho pra ele antes de descer? Descubro quem foi esse meu massagista anônimo? A parada se aproximava, tantas imagens, tantas feições me vinham a mente... como ele é? Bonito? Feio? Novo? Velho? (Lindembergue?) Minha imaginação floresceu. O ônibus parou. As pessoas começaram a descer, eu precisava levantar da cadeira. Olho? Caminhei até a porta. Agradeci ao motorista. A adrenalina subiu nessa hora! Olhei pra escada, e ... desci. Não podia estragar tudo. A graça do momento foi justamente não saber quem era. E nunca vou saber. Mas de uma coisa eu tenho certeza, foi massa!